segunda-feira, 11 de março de 2013

A questão do conhecimento no século XXI

Por Raquel de Almeida Moraes*


No capitalismo em crise, a produção e a posse do conhecimento torna-se ser fator determinante no grande tabuleiro de xadrez mundial.
Marxistas e pós-modernos disputam sua apropriação e difusão.  Enquanto os pós-modernos como Lyotard (1989) defendem que a ciência é feita por dissensos, é um jogo de linguagem onde vence o mais capaz de produzir algo rentável, competitivo e protegido por patentes, os marxistas argumentam que o conhecimento é intrinsecamente não apropriável pois tem por base o trabalho social.
De acordo com Mattelart (2002, p. 121), a referência ao termo “Sociedade da Informação” aparece subrepticiamente nos organismos internacionais (OIs) após a década de 1970. Em 1975 a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento para o Comércio (OCDE), estreia a noção e em 1979 usa o termo como palavra chave em programa experimental: Forecasting and Assessment in the Field of Science and Technology, FAST, que inicia oficialmente em 1980.
No campo das ideias, os OIs, incluindo o Banco Mundial, aderem ao debate do lado dos pós-industriais e pós-modernos. Entre as evidências se encontra, na atualidade, o seu documento publicado em 2003: Lifelong Learning in the Global Knowledge Economy. Em português: Aprendizagem Permanente na Economia Global do Conhecimento
O Banco Mundial desenvolveu uma Metodologia de Avaliação do Conhecimento (KAM), por meio da qual se elaboram os Índices da Economia do Conhecimento (KEI).
O KAM consiste em 81 variáveis estruturais quantitativas e qualitativas para 132 países, que servem para avaliar sua performance nos 4 pilares da Economia da Informação, a saber: 1) incentivos econômicos e regime institucional, 2) educação, 3) inovação e 4) tecnologias da informação e comunicação. As variáveis são normalizadas em uma escala de 0 a 10, relativas aos outros países no grupo de comparação.
O conhecimento produzido se transforma em propriedade intelectual. Para Dupas (2007) a propriedade intelectual, PI regulada por meio de um rígido controle da utilização de marcas e patentes, é um dos pilares do sistema de acumulação capitalista global.
Esse rígido controle da PI utiliza-se intensamente das instituições internacionais como Organização Mundial do Comércio (OMC), Banco Mundial (BM) e Fundo Monetário Internacional (FMI), mas, paradoxalmente, começa o questionamento sobre o peso dos custos envolvidos em ações defensivas dessas grandes corporações.
Articulando PI com tecnologia, consideramos que
A tecnologia é fruto do trabalho humano, nela está contida a síntese do trabalho objetivado transposto para as máquinas. A tecnologia não é outra coisa senão trabalho intelectual materializado dando visibilidade ao processo de conversão da ciência, potência espiritual, em potência material, traduzida e protegida por patentes e direitos autorais que têm mantido, como salientado por Saviani, Dupas e Mèzsáros, a hegemonia da classe social que detém o Capital na sociedade (Moraes,2010, p. 324) .
A produção do conhecimento, portanto, não é neutra. Envolve o dispêndio de um trabalho situado no tempo e no espaço onde seus produtores ocupam uma posição de classe. A política têm assinalado, contudo, o benefício daqueles que detém o poder econômico e geopolítico.
Saviani (2007) tem razão quando postula que  "[...] o dominado não se liberta se ele não vier a dominar aquilo que os dominantes dominam. Então, dominar o que os dominantes dominam é condição de libertação" (Saviani, 2007, p. 55).
Socializar, portanto, o conhecimento torna-se cada vez mais imperativo pois não chegamos ao fim da história como pressupõe a ideologia pós-industrial e pós-moderna.

*Raquel de Almeida Moraes é professora associada da UnB, doutora em Educação pela Unicamp e  pós-doutora em Filosofia da Educação pela Universidade de Haifa. Milita na Base Heron de Alencar, do PCB na UnB. 

Referências

DUPAS.G. Propriedade Intelectual: tensões entre a lógica do capital e os interesses sociais. In: VILLARES, F. (Org.). Propriedade Intelectual: tensões entre a lógica do capital e os interesses sociais. São Paulo: Paz e Terra, 2007, p.15-24. Disponível em <http://fido.rockymedia.net/anthro/dupas.pdf>  Acesso em 21/2/12
LYOTARD, J.F. A Condição Pós-Moderna. São Paulo: Loyola, 1989.
MATTELART, A. História da Sociedade da Informação. São Paulo: Loyola,2002.
MORAES, R.A. Institucionalização da EaD nas IES públicas: uma perspectiva histórico-crítica e emancipadora. In: Daniel Mill; Nara Pimentel. (Org.). Educação a Distância: desafios
contemporâneos. 1 ed. São Carlos: EdUFSCar, 2010, v. 1, p. 319-349.
SAVIANI, D. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a educação política. 39 ed. Campinas: Autores Associados, 2007.
WORLD BANK. Lifelong Learning in the Global Knowledge Economy.Challenges for Developing Countries. Washington: World Bank, 2003. Disponível em <http://tinyurl.com/azkpdnq> Acesso em 21/12/12

WORLD BANK. Knowledge Assessment Methodology, KAM. 12  Disponível em: <http://web.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/WBI/WBIPROGRAMS/KFDLP/EXTUNIKAM/0,,menuPK:1414738~pagePK:64168427~piPK:64168435~theSitePK:1414721,00.html> Acesso em 21/12/12