No capitalismo em crise, a
produção e a posse do conhecimento torna-se ser fator determinante no grande
tabuleiro de xadrez mundial.
Marxistas e pós-modernos
disputam sua apropriação e difusão.
Enquanto os pós-modernos como Lyotard (1989) defendem que a ciência é
feita por dissensos, é um jogo de linguagem onde vence o mais capaz de produzir
algo rentável, competitivo e protegido por patentes, os marxistas argumentam
que o conhecimento é intrinsecamente não apropriável pois tem por base o
trabalho social.
De acordo com Mattelart
(2002, p. 121), a referência ao termo “Sociedade da Informação” aparece
subrepticiamente nos organismos internacionais (OIs) após a década de 1970. Em
1975 a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento para o Comércio (OCDE),
estreia a noção e em 1979 usa o termo como palavra chave em programa
experimental: Forecasting and Assessment in the Field of Science and
Technology, FAST, que inicia oficialmente em 1980.
No campo das ideias, os
OIs, incluindo o Banco Mundial, aderem ao debate do lado dos pós-industriais e
pós-modernos. Entre as evidências se encontra, na atualidade, o seu documento
publicado em 2003: Lifelong Learning in
the Global Knowledge Economy. Em português: Aprendizagem Permanente na Economia Global do Conhecimento
O Banco Mundial desenvolveu
uma Metodologia de Avaliação do Conhecimento (KAM), por meio da qual se
elaboram os Índices da Economia do Conhecimento (KEI).
O KAM consiste em 81
variáveis estruturais quantitativas e qualitativas para 132 países, que servem
para avaliar sua performance nos 4 pilares da Economia da Informação, a saber:
1) incentivos econômicos e regime institucional, 2) educação, 3) inovação e 4)
tecnologias da informação e comunicação. As variáveis são normalizadas em uma
escala de 0 a 10, relativas aos outros países no grupo de comparação.
O conhecimento produzido se
transforma em propriedade intelectual. Para Dupas (2007) a propriedade
intelectual, PI regulada por meio de um rígido controle da utilização de marcas
e patentes, é um dos pilares do sistema de acumulação capitalista global.
Esse rígido controle da PI
utiliza-se intensamente das instituições internacionais como Organização
Mundial do Comércio (OMC), Banco Mundial (BM) e Fundo Monetário Internacional
(FMI), mas, paradoxalmente, começa o questionamento sobre o peso dos custos
envolvidos em ações defensivas dessas grandes corporações.
Articulando PI com
tecnologia, consideramos que
A
tecnologia é fruto do trabalho humano, nela está contida a síntese do trabalho
objetivado transposto para as máquinas. A tecnologia não é outra coisa senão
trabalho intelectual materializado dando visibilidade ao processo de conversão da
ciência, potência espiritual, em potência material, traduzida e protegida por
patentes e direitos autorais que têm mantido, como salientado por Saviani,
Dupas e Mèzsáros, a hegemonia da classe social que detém o Capital na sociedade
(Moraes,2010, p. 324) .
A produção do conhecimento,
portanto, não é neutra. Envolve o dispêndio de um trabalho situado no tempo e
no espaço onde seus produtores ocupam uma posição de classe. A política têm
assinalado, contudo, o benefício daqueles que detém o poder econômico e
geopolítico.
Saviani (2007) tem razão
quando postula que "[...] o
dominado não se liberta se ele não vier a dominar aquilo que os dominantes
dominam. Então, dominar o que os dominantes dominam é condição de
libertação" (Saviani, 2007, p. 55).
Socializar, portanto, o
conhecimento torna-se cada vez mais imperativo pois não chegamos ao fim da
história como pressupõe a ideologia pós-industrial e pós-moderna.
*Raquel de Almeida Moraes é professora associada da UnB, doutora em Educação pela Unicamp e pós-doutora em Filosofia da Educação pela Universidade de Haifa. Milita na Base Heron de Alencar, do PCB na UnB.
Referências
DUPAS.G. Propriedade Intelectual: tensões entre
a lógica do capital e os interesses sociais. In: VILLARES, F. (Org.). Propriedade Intelectual: tensões entre a
lógica do capital e os interesses sociais. São Paulo: Paz e Terra, 2007,
p.15-24. Disponível em <http://fido.rockymedia.net/anthro/dupas.pdf> Acesso em 21/2/12
LYOTARD, J.F. A Condição Pós-Moderna. São Paulo:
Loyola, 1989.
MATTELART, A. História da Sociedade da Informação. São
Paulo: Loyola,2002.
MORAES, R.A.
Institucionalização da EaD nas IES públicas: uma perspectiva histórico-crítica
e emancipadora. In: Daniel Mill; Nara Pimentel. (Org.). Educação a Distância: desafios
contemporâneos. 1 ed. São Carlos: EdUFSCar, 2010, v. 1, p.
319-349.
SAVIANI, D. Escola e democracia: teorias da educação,
curvatura da vara, onze teses sobre a educação política. 39 ed. Campinas: Autores Associados, 2007.
WORLD BANK.
Lifelong Learning in the Global Knowledge Economy.Challenges for
Developing Countries. Washington: World Bank, 2003. Disponível em
<http://tinyurl.com/azkpdnq> Acesso em 21/12/12
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WORLD BANK. Knowledge
Assessment Methodology, KAM. 12
Disponível em: <http://web.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/WBI/WBIPROGRAMS/KFDLP/EXTUNIKAM/0,,menuPK:1414738~pagePK:64168427~piPK:64168435~theSitePK:1414721,00.html>
Acesso em 21/12/12