sábado, 1 de dezembro de 2012

Juventude Comunista discute Universidade Popular

Por Erica Ramos e Joseane Rotatori*


Apesar de muito se propalar a ideia de direito à educação como necessária à emancipação de uma sociedade, vivemos um processo crescente de mercantilização desse direito básico e assegurado pela Constituição Brasileira. Nas reflexões iniciadas na III Reunião do Grupo de Trabalho Nacional de Universidade Popular – GTNUP sinalizamos a necessidade de promover um sistema educacional que possibilite o acesso universal de toda à população e que reflita, sobretudo, sobre a nossa organização em sociedade.


Apesar dessa pretensão, o Movimento pela Universidade Popular (MUP) toma como ponto de partida os questionamentos acerca do nosso atual modelo que se orienta, predominantemente, pela meritocracia - como diretriz fundamental do acesso -, pela privatização do ensino– onde há busca incessante pelo lucro, em detrimento, de uma educação de qualidade. A respeito do primeiro aspecto, explicitamos que tanto o sistema de cotas quanto a abertura de cursos superiores voltados a capacitar movimentos sociais e grupos específicos situa a preferência pelo mérito antes como valor cultuado no universo acadêmico do que como princípio necessário para a educação que queremos. A educação como direito, portanto, não se destina a agraciar os mais bem colocados em vestibulares que mensuram o conhecimento escolar, mas se volta a reparar situações históricas de acesso desigual à educação formal. Entretanto, tais ações têm ocorrido mais à margem da política educacional de sorte a questionar as convencionais formas de acesso e a meritocracia, não se colocando como alternativa para repensar a educação como via de transformação social.
Quanto à privatização do ensino, vimos que o Estado, em vez de elaborar políticas sociais que buscam a universalização não somente do ensino básico, mas também, do ensino superior, investe em programas como o ProUni, projeto que amplia o acesso ao ensino superior privado mas com o custo do envio de montantes megalomaníacos aos tubarões da educação. Outra forma de popularização verifica-se com a massificação da educação superior que para alguns estratos da população é apontada como uma via de ascensão social. Seu contraponto incide no fato de essa expansão do ensino se dar a partir de uma flexibilização curricular e das diretrizes básicas que devem acompanhar a oferta de cursos superiores limando a qualidade da educação superior. Ainda nesse Eixo, programas como o REUNI ampliam o número de vagas, mas são desprovidos de um debate que gere uma real mudança, em todos os níveis, desde a construção democrática de currículos preocupados com sua inserção social até, e principalmente, o acesso das classes mais desfavorecidas e excluídas.
Durante a III Reunião do GTNUP foram feita duas campanhas de grande importância no espectro dos debates sobre educação pública, gratuita, de qualidade e, sobretudo popular. A primeira propõe a luta contra o PL 2177 – Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Esse PL trará uma verdadeira submissão das universidades públicas e federais ao capital privado, uma vez que as universidades públicas terão cada vez mais apoio das fundações de apoio privadas e agências de fomento ao invés do financiamento público de qualidade. Essas fundações privadas irão condicionar o desenvolvimento de suas pesquisas a interesse do mercado e não da classe trabalhadora, no geral.
Já a segunda campanha, foi contra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), criada pela Lei nº 12.550/2011. A implementação desse projeto determina a atuação dos Hospitais Universitários (HU’s) e/ou Hospitais das Clínicas (HC’s) na contramão do papel social que a saúde pública deve cumprir, ao privatizar mais de 45 hospitais em todo o país e romper com o monopólio do SUS. Esses hospitais perderão a sua autonomia universitária, deixando de ser um espaço de ensino, pesquisa e extensão de qualidade para se submeter a uma lógica de mercado, com cumprimento de metas e precarização do regime de trabalho. É uma privatização de dois bens públicos, a educação e a saúde. Esses dois bens não podem ser submetidos à lógica do mercado.
Apesar de a discussão a respeito da educação popular explanar sobre o acesso à educação, ela prima, sobretudo, pelo conteúdo que é reproduzido/produzido nessa atividade. A educação que dispomos, mesmo que no seu mais alto grau de excelência, valoriza e inserção profissional no mercado de trabalho e menos a superação de um sistema de produção/reprodução assentado na desigualdade. Em vista disso, reivindicamos uma educação que vise o rompimento com a reprodução da sociedade de classes em sua construção, rumo à transformação social e a não subordinação das necessidades humanas aos interesses governamentais e do capital, de forma que desconstrua a legitimação da manutenção da ordem vigente. 

* Erica Ramos e Joseane Rotatori são militantes do PCB e mestrandas na Universidade de Brasília.